A pandemia do coronavírus acelerou um novo formato de vendas que era tido apenas como “acessório” nas estratégias de algumas empresas, e até mesmo inexistente na grande maioria: através de mensagens em redes sociais.
Instagram, WhatsApp e Facebook entraram na mira dos empreendedores quando as portas do comércio tiveram de ser fechadas, por conta do isolamento social. Com as pessoas em casa conectadas à vida real apenas pela internet, o jeito foi encontrar novos caminhos para vender e conquistar mais clientes.
A percepção de que as redes sociais estão cada vez mais comerciais são confirmadas pelos números. Um relatório recente do Centro Regional de Estudos do Brasil apontou que 78% das empresas brasileiras de todos os tamanhos estão presentes em pelo menos uma mídia social, e acreditam que estes canais podem influenciar parcerias e aumento as vendas.
Nesta porcentagem, 57% delas estão conectadas apenas e exclusivamente para realizar vendas online – o que representa um aumento significativo de investimento dos comerciantes em plataformas digitais. É o caso, por exemplo, da empresária curitibana Caroline Michel, que abriu uma loja de presentes gastronômicos apenas pelo Instagram no começo da pandemia.
Em quase um ano de atividade, a Baskets Gifts já soma 65 mil seguidores na plataforma e picos de faturamento de R$ 150 mil ao mês. Foi a saída encontrada pela empresária para diversificar os negócios.
“Quando a pandemia começou e eu mesma tive Covid, comecei a perceber uma redução no valor de contratos na minha agência de comunicação, que tenho há dez anos, e vi que precisava pensar em algo para complementar a renda de casa. E aí surgiu esse estalo de criar algo personalizado, como um personal shopper para presentes, que eu gosto e que é promissor”, diz.
Ela conta que a ideia foi trazer um conceito diferente de presentes, principalmente entre os kits de alimentos com chocolates, bolos, e bebidas como espumantes e caixas para o preparo de gim tônica, entre outros. Caroline conta que o negócio rendeu tanto no Instagram que ela conquistou clientes como o dj Alok, a atriz e bailarina Carol Nakamura e o Instituto Neymar, entre outros.
Os pedidos, de acordo com ela, muitas vezes chegam em cima da hora, e é preciso correr para dar conta. “Entendemos que na pandemia, principalmente, as pessoas não tem hora. É o deus das causas impossíveis”, brinca.
É o mesmo visto pela boleira Morgana Wink, que toca a confeitaria virtual Delícia da Momo, também em Curitiba. Ela começou a empreender pelo Instagram em setembro do ano passado para conseguir cuidar dos filhos em casa, e viu os negócios darem um salto nestes seis meses.
“Eu vendo em torno de 200 bolos por mês totalmente pelas redes sociais, 95% pelo Instagram e o restante pelo WhatsApp, no boca a boca dos clientes”, conta.
O bom desempenho chamou a atenção de um shopping center da cidade, que a ofereceu um espaço para abrir um ponto físico para quando a pandemia passar.
Venda certeira
Estudo da consultoria Kantar aponta que as redes Instagram, Facebook e WhatsApp cresceram 40% no Brasil, em média, durante este um ano de pandemia, sendo a primeira delas a preferida dos anunciantes.
Pela própria natureza da plataforma, o Instagram é considerado a principal vitrine para vendas, pelo uso massivo de imagens. Só no Brasil são 95 milhões de usuários, e no mundo todo mais de 25 milhões de anunciantes. É um movimento que já vinha se formando desde 2016 e que foi potencializado a partir do começo de 2020.
Especialista em empreendedorismo e vendas pelas redes sociais, Frederico Flores explica que o Instagram passou a se destacar cada vez mais como um canal de negócios a partir do momento em que foi ganhando novas funcionalidades, como mensagens, Stories, transmissões ao vivo e posts patrocinados.
“O Instagram é hoje o que a televisão foi no passado, é onde as pessoas assistem conteúdos e se informam. É a maior plataforma de negócios do mundo, um misto de entretenimento e informação que faz com que as pessoas fiquem ligadas a ela”, conta.
Com mais de 310 mil seguidores em um perfil que dá dicas de empreendedorismo, Frederico Flores conta que a plataforma pode ser usada também por empresas que já existem no mundo real, e não apenas para negócios exclusivamente virtuais.
Para ele, o Instagram conquistou espaço na estratégia digital das empresas como uma extensão dos canais de vendas, por aproximar os produtos das pessoas – mas, com algumas particularidades primordiais.
“É preciso humanizar e criar uma conexão com a pessoa. A humanização do produto, independente do tamanho da empresa, aumenta a recorrência e o tíquete final. E a conexão converte o comprador, com um produto que seja acessível, fácil de ser feito, comprado, consumido e compreendido”, completa.
Frederico explica que pequenos e médios empreendedores têm muito mais facilidade em humanizar e se conectar aos potenciais clientes das redes sociais do que as grandes empresas, pela facilidade de criar conteúdos menos engessados e mais espontâneos.
“Uma confeiteira cortando um bolo e conversando com o internauta num Stories ou numa live gera muito mais engajamento do que simplesmente a foto de um bolo sem nenhuma ação”, exemplifica.
Do real ao virtual
A própria natureza do Instagram, de ser uma rede social de imagens, a tornou uma vitrine potencial para vendas.
Pesquisa realizada pela startup Omnichat mostra que mais de 10 milhões de atendimentos via chat foram realizados no Brasil ao longo de 2020, totalizando mais de 330 milhões de mensagens trocadas entre vendedores e consumidores. Entre elas estão grandes marcas como Brasil Cacau e Domino’s Pizza.
Já outro estudo da consultoria Mandalah com a plataforma de inteligência artificial Stilingue aponta que, de fevereiro a julho de 2020, as menções por “ter feito alguma compra online” tiveram um aumento de 128%.
Levar os negócios do físico para o virtual foi a saída encontrada pela empresária Patrícia Veron, sócia do restaurante e açougue Boi and Beer, de Curitiba, logo no começo da pandemia. Com a operação restrita por conta dos decretos sanitários de contenção ao avanço da Covid-19, o jeito foi recorrer às vendas pelo Instagram e WhatsApp para pagar as contas.
Hoje, o comércio pelos canais digitais (redes sociais e delivery) responde por 50% do faturamento, com uma estratégia que estimula o engajamento dos internautas em publicações orgânicas e patrocinadas.
“As redes sociais e principalmente o Instagram têm sido o nosso principal meio de propaganda e venda, onde abrimos e concluímos no restaurante. Quanto mais estimulamos o engajamento, mais ela entrega, e é nítido o crescimento do faturamento a partir disso”, conta.
Para ela, o Instagram ajuda muito nas vendas imediatas e também no “branding” do Boi and Beer, tornando os serviços mais conhecidos. A presença de marca foi tanta que só o delivery cresceu 1.540% ao longo de 2020, nos meses de pandemia, utilizando conceitos como a humanização e a conexão com o público – o campeão do programa “MasterChef A Revanche”, Vitor Bourguignon é o garoto-propaganda, além de sócio e chef executivo.
Ao Bom Gourmet Negócios, Frederico Flores conta o que é preciso para fazer negócios de sucesso no Instagram:
Humanização das marcas: o Instagram é uma rede social muito ligada à “pessoalidade”, e as pessoas se comunicam muito mais quando tem a humanização da marca, do produto, da solução. Assim, como o Instagram é uma rede social que as pessoas acompanham a vida de outras, o dia a dia, seja para inspiração ou motivação, é importante que as marcas tenham isso em mente e humanizem os seus perfis. Isso é possível quando se mostra o rosto de quem está por trás da empresa e faz o dia a dia acontecer, mostra a equipe e os bastidores.
Provas sociais: outra dica é usar as provas sociais, que são obtidas com depoimento dos clientes, vídeos deles utilizando os produtos e falando sobre você. Esse material pode ser compartilhado no feed ou Stories. Podem ser utilizados elementos, depoimentos, cases, exemplos de coisas que já fez, que te dê autoridade.
“Infoentretenimento”: de uma maneira geral as pessoas estão no Instagram para se divertir. As marcas com sucesso de engajamento no Instagram são aquelas que tratam a informação como entretenimento, que é quando ensina e mostra a solução de forma mais lúdica, divertida, polêmica, que faz com que as pessoas tenham vontade de participar. As marcas que conseguem ter uma boa estratégia de “infoentretenimento” fazem sucesso com o público.
Texto por: Gazeta Do Povo | www.gazetadopovo.com.br